Se você sente que ter que trabalhar durante uma onda de calor deveria ser banido, talvez você tenha alguma razão. Um novo estudo conduzido pela Harvard TH Chan School of Public Health sugere que tempo quente pode deixar sua linha de raciocínio 13% mais devagar.
O estudo, publicado neste terça-feira 03/07/2018, mensurou a performance cognitiva entre estudantes que possuíam acesso a condicionadores de ar e aqueles que não durante uma onda de calor em 2016 em Boston. Os estudantes que estavam em ambientes climatizados não só responderam mais rápido, mas também tiveram mais acertos.
O estudo sugere que o decréscimo na habilidade cognitiva pode ser ligada a “um aumento na carga térmica” absorvida pelos estudantes, juntamente com a influência de outros fatores associados com a exposição ao calor como perda de sono e desidratação.
E não pára por aí. Tem pesquisas que demonstram que a falta de climatização pode nos levar a desistir de tomar decisões como um todo, em grupo. Um estudo em 2012, por exemplo, analisou dados de vendas de loterias no condado de St Louis (Missouri, EUA) durante um ano inteiro. Os pesquisadores descobriram que a venda de raspadinhas, que demandam a escolha de uma entre várias opções, diminuíram $594 para um aumento de cada grau Fahrenheit*. Em contrapartida, a venda de bilhetes de loteria – onde os compradores tem bem menos opções a considerar – não foram afetadas pelas mudanças na temperatura.
No mesmo estudo, pesquisadores pediram a participantes revisarem um artigo dentro de uma sala que estava em temperatura mais quente (25°C) e outra climatizada (19°C). Os pesquisadores descobriram que aqueles nas salas de temperaturas mais quentes erravam mais que os nas salas de ambiente climatizado. Em outro estudo subsequente, os pesquisadores deram opções de planos de telefonia a participantes e os solicitaram que fizessem a melhor escolha – também em uma sala quente e outra climatizada. O teste evidenciou que na sala mais quente as pessoas escolhiam os piores planos, levando os pesquisadores a concluir que calor torna mais provável as pessoas utilizarem padrões mais sofisticados de tomada de decisão, o que leva a escolhas erradas.
Agora vamos ligar o ar condicionado no máximo? Não. Todos sabemos que o nível de conforto térmico é percebido diferentemente entre homens e mulheres. O conforto térmico é uma zona e que depende de algumas variáveis, não só a temperatura – tanto assunto que cabe em mais de uma publicação aqui no site. Por experiência e estudos que eu li posso confirmar que, em termos gerais, enquanto homens preferem 21-22°C, as mulheres ficam nos 24-25°C.
A briga entre os sexos se torna interessante aqui em Porto Alegre: não só temos um intenso verão com dias quentes – tivemos temperaturas variando de 30 a 36°C neste verão de 2018 – mas também um rigoroso inverno com dias a 7°C. No final das contas, a briga duplica briga para definir a temperatura do condicionador do ar tanto “no frio” quanto “no quente”. Sem falar que a briga aumenta quando tem usuários que não gostam de ar “no quente”!
Post, tradução e adaptação: Felipe Helfensteller
*Celsius x Fahrenheit não podemos multiplicar por um fator constante. Para uma comparação, de 19°C para 25°C temos 66°F a 77°F.
Fontes: The Guardian, Boston Globe, AMA Journal